Introdução ao Desenvolvimento de Jogos – Parte 1

Este artigo apresenta uma introdução ao desenvolvimento de jogos digitais através do motor de jogos Unity. O objetivo é listar as vantagens da utilização do Unity como ferramenta de entrada no universo do desenvolvimento de jogos digitais. Através da metodologia de pesquisa bibliográfica o artigo traz uma breve história dos videogames e sua evolução tecnológica e comercial. Apresenta ainda as metodologias de desenvolvimento de software e suas aplicações no desenvolvimento de jogos. Em seções subsequentes o artigo aborda as ferramentas e técnicas de desenvolvimento de jogos. A pesquisa encerra apresentando os fatores que permitem concluir positivamente a respeito da hipótese do Unity poder ser considerada uma boa ferramenta de introdução ao desenvolvimento de jogos.

Introdução

O mercado de jogos digitais vem crescendo em todo o mundo nos últimos anos. O cenário do desenvolvimento de jogos no Brasil não é diferente como mostram os números do II Censo da Indústria no país (SAKUDA; FORTIM, 2018). Os resultados da pesquisa apresentam conclusões interessantes sobre o desenvolvimento de jogos e o perfil da indústria nacional destacando o fato de ser um mercado jovem e recheado de empresas de pequeno porte e iniciantes. Este mercado crescente continua atraindo cada vez mais pessoas interessadas em ingressar no desenvolvimento de jogos digitais.
O desenvolvimento de jogos digitais é complexo e envolve a aplicação de várias áreas de conhecimento em torno da produção de uma obra. Concatenar as ideias propostas para o desenvolvimento de um produto que expresse conceitos e desperte o interesse do público pode ser tornar um trabalho longo e de resultado incerto. É preciso buscar elementos que auxiliem o desenvolvimento de forma segura e continuada, entretanto, existem diversos caminhos que permitem chegar ao objetivo final. As metodologias e ferramentas de desenvolvimento vêm se modificando e se aperfeiçoando para acompanhar a evolução dos jogos digitais, porém, a quantidade de opções pode trazer incertezas aos desenvolvedores iniciantes sobre quais escolhas serão mais efetivas para a introdução ao mercado.

Um dos fatores que tem ajudado a indústria de desenvolvimento de jogos digitais a se expandir é o crescimento na oferta de game engines1 poderosas e, em alguns casos, gratuitas. O Unity é uma das mais populares game engines do mercado. Com este motor de jogos é possível criar projetos de diversos escopos desde protótipos a jogos consagrados. Essa versatilidade habilita o Unity como uma ferramenta capaz de atender a desenvolvedores iniciantes, pequenos e grandes estúdios. O objetivo deste artigo é identificar as vantagens da introdução ao desenvolvimento de jogos digitais através do Unity.
Por meio de uma abordagem qualitativa e de caráter exploratório, realizada através do procedimento de pesquisa bibliográfica, este artigo apresenta a história dos jogos digitais desde os primeiros videogames seguida de tópicos que se correlacionam na construção de uma base de conhecimento teórico que justifique o resultado final. Desta forma este trabalho apresenta uma breve introdução ao uso de metodologias de desenvolvimento de software aplicadas na criação de jogos, assim como técnicas de desenvolvimento desde a concepção da ideia até o produto final. Descreve a evolução dos jogos e como são produzidos, destacando uma importante fase da produção de jogos; a prototipação. Este trabalho lista uma série de dicas valiosas para a criação de protótipos de jogos digitais. O Documento de Game Design é um dos mais importantes e utilizados no projeto e desenvolvimento de jogos. Sua função é apresentada aqui de forma resumida. O artigo também traz uma lista de habilidades e conhecimentos que ajudam o desenvolvedor durante o projeto, desenvolvimento e finalização de jogos digitais. Por fim o artigo verifica as ferramentas utilizadas para o desenvolvimento de jogos avaliando, em especial, as qualidades e funcionalidades do motor de jogos Unity e seu papel na introdução ao desenvolvimento de jogos digitais.

Um pouco da história

Existem várias opiniões diferentes sobre a origem da indústria dos jogos digitais. O filme documentário Videogames The Movie (2014) traz depoimentos sobre o início dessa história. Para alguns depoentes Nolan Bushnell, um dos fundadores da Atari é o pai da indústria dos videogames. Outros indicam Shigeru Miyamoto que alavancou a Nintendo no mercado de jogos digitais. Há os que apontam Ralph Bear que teria criado em 1967 o primeiro console de videogame batizado de “Brown Box”. Há os que creditam esta origem aos pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que criaram de fato alguns dos primeiros jogos eletrônicos, entre eles Steve Russell que criou o jogo Spacewar! Russell foi uma das inspirações de Bushnell segundo declarações dele mesmo. Também figura nesta lista William Higinbotham do laboratório Nacional de Brookhaven que criou o jogo Tennis for Two, exibido em uma tela de osciloscópio (A HISTÓRIA[…], 2014).

Inicialmente o acesso aos jogos digitais era restrito a poucas pessoas e os jogos eram criados e jogados nos grandes computadores utilizados nos laboratórios de computação de universidades e instalações militares. A popularização dos jogos digitais começou no final da década de 1970 quando surgiram os primeiros jogos produzidos com gráficos vetoriais e ganharam ainda mais destaque na década seguinte quando passaram também a ser produzidos com imagens coloridas criadas a partir de matrizes de pixels (ROGERS, 2012). A partir daí os jogos tiveram uma ascensão meteórica (NESTERIUK, 2014). A Atari teve papel fundamental no crescimento da indústria trazendo os jogos para o grande público e tornando-os um fenômeno popular. A seguir vieram alguns anos de fracasso da indústria provocados pela produção em massa de produtos de baixa qualidade. Investidores já afligiam os criadores de jogos no início dos anos 1980 na obsessão por lucro (VIDEOGAMES[…], 2014). A Nintendo reescreveu a segunda parte desta história voltando seus produtos para o caminho da criatividade e qualidade. Com jogos como Super Mario Bros (1985) e The Legend of Zelda (1986) a empresa japonesa, fundada por Fusajiro Yamauchi em 1889, resgatou o espírito original dos jogos que havia se perdido. A indústria se renovou e passou desenvolver experiências melhores para os usuários. Novos jogos, novas tecnologias e novas histórias de imersão que trouxeram a indústria de jogos para a potência que hoje representa. No Brasil a indústria de jogos eletrônicos demorou mais para se desenvolver devido às barreiras impostas pela reserva de mercado da área de informática que, a princípio visava defender a indústria nacional. Na prática essa política proibia a importação de produtos de informática, o que incluía consoles e jogos digitais. No final da década de 1970 reinavam por aqui os clones de consoles estrangeiros. O primeiro deles foi o Telejogo da Philco Ford que copiava o Pong da Atari seguido de outros como o Atari CX 2600 e o Top Game. Essa política veio sofrendo pressões dos mercados externos e foi se modificando aos poucos até o fim da reserva de mercado no início da década de 1990 (ZAMBON, 2017).

Mercado de Jogos Digitais

Como visto na seção 2, as políticas protecionistas do Brasil tiveram grande influência no desenvolvimento da indústria nacional de jogos digitais. A indústria que surgiu sob a bandeira do protecionismo era dependente do Estado e incapaz de suprir a demanda crescente do mercado interno. A abertura ao mercado externo fez sucumbir a produção “nacional” dos clones de consoles e consequentemente atrasou a produção de jogos digitais com conteúdo próprio no país. O cenário nacional de produção de jogos começa a mudar a partir do ano 2000 quando surgem iniciativas e políticas em áreas correlatas e ganha mais fôlego com a criação da Abragames – Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (ZAMBON, 2017). Desde então o mercado de jogos digitais tem crescido vigorosamente no Brasil. O segundo censo da indústria brasileira aponta um crescimento do número de empresas superior a 100% entre 2014 e 2018 (SAKUDA; FORTIM, 2018). Os números do mercado e o surgimento de ferramentas novas e baratas, tanto para criação quanto para distribuição dos jogos digitais, tem feito com que cada vez mais pessoas se interessem pelo desenvolvimento de jogos. A Loja de jogos digitais Steam1 é uma das novas ferramentas de distribuição. Uma busca rápida em seus arquivos lista mais de 2500 jogos que ainda serão lançados em breve. Além das ferramentas que facilitam a vida dos desenvolvedores na distribuição de jogos para a plataforma PC, as empresas proprietárias de consoles também tem dado mais atenção ao jogos independentes com espaço e investimento em estúdios menores. Quanto à produção dos jogos as ferramentas conhecidas como game engines ajudaram bastante no crescimento do mercado, especialmente o mercado de jogos independentes. Já em 2014 a maioria dos desenvolvedores brasileiros pesquisados utilizavam o Unity como base para o desenvolvimento de jogos (FLEURY; SAKUDA; CORDEIRO, 2014).

A evolução constante do mercado de jogos digitais traz uma gama de oportunidades dada a variedade de jogos que podem ser criados com as tecnologias atuais. Não somente as tecnologias mas também os conceitos de design de jogos tem se diversificado bastante. A classificação dos jogos digitais pode ser feita sob vários aspectos diferentes. A fragmentação do mercado de jogos aponta para as dificuldades de se classificar um jogo tendo como base o seu estilo uma vez que esta classificação não estabelece definitivamente o que o jogo é de fato, podendo um mesmo jogo pertencer a várias categorias diferentes. As classificações dos jogos evoluem assim como a indústria e a cada fase diversos autores propõem novas formas de classificação. Na década de 1980 os jogos eram divididos em dois grandes grupos: os jogos de habilidade e ação e os jogos de estratégia, com estas duas categorias se dividindo em outras subcategorias. Na década dos anos 2000 novas classificações são delineadas, apesar de semelhantes ao que já havia sido estabelecido (CRAWFORD, 1982; BATTAIOLA, 2000; POOLE, 2000 apud SCHULTZ, 2014). Uma classificação muito difundida no meio de desenvolvimento é a classificação por gênero. Em seu livro sobre desenvolvimento de jogos ROGERS (2012) cita alguns desse gêneros e subgêneros como os jogos de ação, aventura, arcade, plataforma, FPS, RPG, entre outros.

Em sua pesquisa sobre o mercado brasileiro, através do II Censo da Indústria Brasileira de Jogos, SAKUDA e FORTIN (2014) uma das formas de classificação utilizada para avaliação do mercado divide os jogos em duas categorias principais definidas pelo estilo de jogo em relação ao próprio mercado sendo elas: jogos de entretenimento e jogos sérios, considerando os jogos não incluídos nesta classificação como outros. Um segundo tipo de classificação divide os jogos pela plataforma para a qual são projetados muito embora existam no mercado diversos exemplos de um mesmo jogo lançado em várias plataformas diferentes. O resumo deste estudo sobre o mercado brasileiro traz o retrato da indústria de desenvolvimento de jogos no Brasil com uma conclusão interessante. O perfil aponta para uma indústria jovem recheada de pequenas empresas com poucos anos de vida atraída pelo bom cenário do mercado para desenvolvedores iniciantes.


Leia a continuação deste artigo em Introdução ao Desenvolvimento de Jogos – Parte 2


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Uma resposta para “Introdução ao Desenvolvimento de Jogos – Parte 1”

  1. […] artigo anterior apresentamos os pioneiros do desenvolvimento de jogos digitais. Àquela época era comum que as […]

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